Participação de bolsista em evento na Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Nos dias 23 e 24 de agosto, participei do XII Encontro sobre Investigação na Escola, representando o grupo de bolsistas da Escola Silveira Martins. Segue abaixo o certificado de participação em evento e o texto que foi apresentado em uma das rodas de conversa.
Alfabetização,
letramento (s) e gêneros: descrição e discussão de práticas efetivas.
Fernanda Cavalheiro Granato (granato.fc@gmail.com)
Liane
Barreto Silva (lianebsilva_@hotmail.com)
Resumo
As práticas de leitura e escrita devem
ser enfatizadas no trabalho com crianças desde muito cedo, sendo assim,
buscamos nesse texto trazer para reflexão uma atividade com esse intuito. Esta
faz parte de um conjunto de atividades organizadas e implementadas por um grupo
de bolsistas do Programa Institucional de bolsas de Iniciação a Docência –
PIBID. O objetivo principal é inserir alunos das séries de alfabetização (1º ao
5º anos do ensino fundamental) em um ambiente letrado através de atividades
interdisciplinares. Temos como foco nessas atividades, principalmente, a
produção de texto, com vistas ao desenvolvimento da oralidade, promovendo a
interação além de trabalhar com a Língua Portuguesa em sua materialidade, isto
é, em forma de textos, sejam orais e/ou escritos. Fundamentam essas práticas os
pressupostos da teoria de Bakhtin (2011) que versa sobre o dialogismo, a
questão das capacidades de linguagem forjadas por Dolz, Schneuwly et. Al.
(2011) e as práticas de letramento, tendo como referência, nesse quesito,
Soares (2004).
Palavras chave: séries iniciais, gêneros do discurso, motivação-escrita, teatro.
1. CONTEXTO DO RELATO
Este texto descreve
certa experiência didática, desenvolvida por um grupo de bolsistas do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) – Subprojeto Letras
Português (2009)[1], em uma
Escola Estadual, localizada no centro da cidade de Bagé – (RS). Esse grupo programou,
no ano de 2012 e deu continuidade nesse ano, o projeto “Biblioteca Viva” [2] que
teve por finalidade primeira dar uso ao vasto acervo de livros, principalmente
infantis, que a biblioteca da escola possuía. Atividades como peças teatrais,
cinema e contação de histórias foram propiciadas pelos encontros quinzenais do
grupo com as crianças. Em 2013, resolvemos mudar um pouco a
metodologia, a principal diferença é que neste ano as crianças têm papel mais
ativo na construção de conhecimentos. Assim, as atividades que estão sendo
realizadas desde março desse ano têm por finalidade apresentar um gênero do
discurso, de forma interativa, como antes, mas além de conhecer e reconhecer as
características do gênero, a criança é convidada a produzir textos orais e
escritos, inserindo-os assim, em um ambiente letrado.
As atividades visam
discutir situações do cotidiano das crianças, e as produções textuais tem por
objetivo principal a socialização, pois como afirma KLEIMAN (2005, p.5): “Letramento é um conceito criado para referir-se aos
usos da língua escrita não somente na escola, mas em todo lugar.” Levamos
em consideração o que diz GERALDI (2011), que a linguagem é o lugar de
constituição de relações sociais, onde os falantes se tornam sujeitos, assim,
trabalhamos com os gêneros do discurso com o intuito de promover atividades que
envolvessem os alunos, por meio de leituras dinâmicas, a prática de produção
oral e escrita situadas, evitando atividades de decodificação ou que utilizem a
intepretação pela interpretação.
2.
DETALHAMENTO
DAS ATIVIDADES
As
atividades foram desenvolvidas quinzenalmente e a escolha dos gêneros foi feita
levando em consideração as cinco capacidades da linguagem[3] com
o intuito de que os alunos tivessem contato com os mais variados gêneros, a fim
de despertar a imaginação, fazendo-os refletir sobre as temáticas apresentadas
e, com isso, inseri-los em um ambiente letrado e trabalhar questões da Língua
Portuguesa.
Trabalhamos
alguns gêneros do discurso por meio de peças teatrais e, durante a encenação, as
personagens ‘dialogavam’ com os alunos buscando a interação e o desenvolvimento
da oralidade. No começo da execução dessa prática, adaptamos alguns textos de
acordo com a temática pretendida e com as turmas envolvidas, entretanto, após
conhecê-los e perceber suas dificuldades, passamos a elaborar as atividades,
criando textos que chamariam a atenção dos participantes e atenderiam suas
necessidades.
Uma das atividades realizadas foi a apresentação do texto
“Emília: uma aprendiz de cientista”, com o intuito de desenvolver nos alunos a
capacidade de reconhecer e elaborar o gênero receita. A história apresentada
contava as artimanhas de uma menina que almejava ser cientista e, para isso,
estudava muito e participava de feiras de ciências. Tentou, então, criar uma
máquina de fazer batatas fritas rápida e segura, porém, fracassou. Resolveu
fazer um suco da invisibilidade e não obteve êxito novamente, a personagem
convida os alunos para lerem sua
receita, pensando no que pode ter dado errado e solicita que cada aluno escreva
a sua receita do suco da invisibilidade. Os momentos de diálogo e reflexão
foram diversos como, por exemplo, quando Emília conversa com sua mãe sobre a troca
de seu nome (identidade), sonhos e estudos, já que a menina (personagem) era
interessada em alcançar seus objetivos. A partir desse contexto instigamos os
alunos a pensarem, em como realizar seus sonhos e o que é necessário para
realizá-los.
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO
Enquanto bolsistas de iniciação à docência e responsáveis pela reflexão
da nossa prática, procuramos desenvolver atividades a partir de diferentes
métodos, e por meio dessa reflexão percebemos alguns efeitos relevantes no que
diz respeito à maneira como as práticas foram realizadas. O espaço escolar é
fundamental para que possamos fazer essa análise e por isso nos fez perceber
que as atividades realizadas em relação ao teatro na escola, foram o método
mais significativo, que atingiu de forma integral os alunos inseridos nessa
proposta educacional. Acreditamos que essa metodologia foi aceita de forma
espontânea pelos alunos por tratar-se de uma atividade diferenciada, pois o
espaço reservado ao diálogo e a troca de ideias é maior e por possuir foco na
interação bolsista-aluno, fugindo do contexto rotineiro de sala de aula.
Dentre os objetivos desse trabalho
com peça teatral, está a apresentação de um determinado gênero discursivo, que proporciona
aos alunos reconhecerem esse gênero e refletirem acerca do tema proposto por
meio da interpretação da história em questão. A partir desse envolvimento
aluno-peça teatral, solicitamos uma produção textual, a fim de desenvolvermos
questões pertinentes à escrita. Um de nossos anseios era o de que não
atingíssemos a todos, pois eram diversos os seus níveis de escrita, contudo, os
alunos estavam se apropriando do gênero e desenvolvendo a produção escrita por
estarem em um contato direto com o texto inserido na peça teatral.
Por fim, para que houvesse uma
continuidade e um maior rendimento quanto a essa prática de leitura, indicávamos
livros que se encontram na biblioteca da escola, assim, além de atingirmos
nossos objetivos quanto aos gêneros trabalhados, proporcionávamos uma busca por
conhecimentos, motivando a prática da leitura, tendo em vista a diversidade do
acervo da escola.
Tendo em vista que os alunos estavam em processo de alfabetização e que
não possuíam um total domínio de leitura, tampouco habilidades para essa,
despertamos, por meio de peças teatrais, o interesse desses alunos pelos
livros. Também,
a cada encenação, instigávamos-os a falarem as características que a peça apresentava. E ainda,
apresentávamos livros infantis, com o intuito de que os alunos se tornem
leitores ativos e desenvolvam a prática comunicativa perante a sociedade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inserção
dos alunos do processo de alfabetização, em ambientes letrados, por meio de
atividades interdisciplinares proporcionou o desenvolvimento da oralidade e da
escrita. Outro fator importante que contribuiu para esse desenvolvimento foi a
interação dos bolsistas com os alunos enquanto discutiam a temática trabalhada
ou trocavam ideias acerca da mesma.
Percebemos a necessidade de motivá-los, por
sermos um grupo de cinco bolsistas, passamos a atender os alunos
individualmente. Essa atenção especial aos alunos, e a dinâmica usada nas peças
teatrais, foram fatores que contribuíram para o progresso deles, além da
exposição dos trabalhos em murais da escola. Notamos que alunos que antes apenas
desenhavam, passaram a escrever frases, até mesmo textos curtos. Por meio
dessas motivações, houve um progresso significativo nas produções escritas dos alunos.
A indicação
de livros durante as encenações e o diálogo com os alunos sobre quais livros
eles já haviam lido, despertou a curiosidade dos mesmos promovendo a procura
pelos livros indicados na biblioteca. Diante disso consideramos de extrema
importância o trabalho com atividades dinâmicas e inserção dos alunos em
ambientes letrados, pois além de desenvolveram “as capacidades de: ler, ouvir,
escrever, e falar”, passaram a interagir com os colegas, trocando ideias e
indicando livros.
5. REFERÊNCIAS
DOLZ,
Joaquim. SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros
orais e escritos na escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís
Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2011.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da
criação verbal. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
GERALDI, João Wanderley. (orgs). O texto em sala de aula. São Paulo: Ática,
2011.
Giovani, Fabiana. O texto
na apropriação da escrita. Dissertação (Mestrado em
Educação). Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). São Carlos: Brasil.
2006.
2006.
Giovani, Fabiana. A
ontogênese dos gêneros discursivos escritos na alfabetização. Tese (Doutorado
em Linguística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista. (UNESP).
Araraquara: Brasil: 2006.
KLEIMAN, Ângela B.
Preciso “ensinar” o letramento?
Cefiel / IEL/ Unicamp, 2005.
SOARES, Magda. Letramento e
alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação
(Impresso), v. 51, p. 5-17, 2004.
[1] Este projeto faz parte do curso de Letras da
Universidade Federal do Pampa (Unipampa), campus Bagé - RS.
[2] O
projeto “Biblioteca Viva” foi implantado pelos bolsistas do PIBID, na escola em
junho de 2012. Com o objetivo de incentivar a leitura, organizou-se a
biblioteca da escola e promoveram-se atividades lúdicas a fim de despertar o
interesse dos alunos pela leitura literária.
[3] A
esse respeito ver DOLZ, SCHNEUWLY et. Al.
(2011).
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