Zero Hora 13/01/11
Dois artigos me chamaram atenção na Zero Hora de hoje, como se referem a nossa (futura) profissão resolvi postá-los aqui no blog para que possamos refletir sobre assuntos que já foram pautas das nossas discussões:
Quando a culpa também é do professor, por Cleber Benvegnú*
Vi meu pai, em idos tempos, ser convidado à mesa de autoridades simplesmente porque ostentava, no pequeno lugarejo em que morávamos, o título de professor. E, naquela época, tal qual hoje, o salário não era algo que enricasse alguém. Longe disso. O que lhe garantia essa condição, a mesma que tantos mestres de outrora ostentavam, era tão somente uma postura de quem respeitava e se dava por respeitar. De quem conhecia, moderava e ponderava. De quem tinha consciência da profissão que escolheu e, apesar das agruras, a ela se dedicava de corpo e alma.
Sim, esta é minha pauta: o magistério. Ocorre, porém, que não vou reproduzir odes às virtudes e à importância social da categoria – isso já fazem às pampas. Quero é reclamar do professor, mesmo sabendo que necessariamente desagradarei. Como desagrada o que foge ao politicamente correto e ao coro das multidões. Como desagrada o que contraria imexíveis zonas de conforto e grandes grupos de interesse – principalmente se escorados em influentes sindicatos.
Não importa. É hora de colocar na berlinda também os professores, pessoas físicas com nome e sobrenome. Não todos, por óbvio, mas aqueles que se encaixam num estereótipo decadente que tenho visto aumentar nos últimos anos. Aqueles que têm parcela significativa de culpa no cartório dos maus resultados da educação, apesar de quase sempre se esconderem nas supostas injustiças do sistema.
Reclamo do professor que só reclama, a ponto de transformar seu cotidiano numa lamúria permanente. Um chororô insuportável. Um fardo para si e para os outros – para os alunos, especialmente. Reclamo do professor que perdeu o charme, que não lê sequer o jornal do dia, não entra em biblioteca, vai dar aula com roupa de ginástica e só entende de novela. Daquele que jamais prepara uma aula e nunca tentou sequer ligar um computador. Daquele que não gosta do que faz e, por isso mesmo, não cria, não se valoriza. Só se lamuria, só choraminga. É triste e entristece.
Reclamo daquele que a tudo culpa o baixo salário. Explica sua muita preguiça na pouca cifra que recebe, como se isso justificasse a incompetência latente. Como se o magistério fosse a vítima escolhida para todos os males possíveis. A fila anda, ora bolas. Tem gente querendo esse lugar. E o dinheiro do povo é que paga essa conta, inclusive os interessantes dois meses de férias por ano. É preciso honrar o concurso por que passou. Fazer jus ao emprego público que escolheu – até porque já sabia das condições antes de nele entrar. Amar a profissão, apesar dos pesares. Ou dela desistir.
Não, não proponho parar de lutar ou abdicar da consciência crítica. Lutem por seus direitos, tudo bem. Protestem. Mas o professor tem de recuperar o autoconceito para além dos vencimentos. Para além do clichê sindicalista, que nada inova, nada propõe, nada desafia. Falo em fazer o que está ao seu alcance para melhorar a jornada, sem culpar os outros durante todo o tempo. Falo em superar essa cultura do coitadismo que se instalou em muitos corações e mentes. Afastar o baixo-astral. Falo, enfim, em vontade própria, em autoestima e, principalmente, em autocrítica – virtude indispensável a qualquer profissional.
*ADVOGADO E JORNALISTASim, esta é minha pauta: o magistério. Ocorre, porém, que não vou reproduzir odes às virtudes e à importância social da categoria – isso já fazem às pampas. Quero é reclamar do professor, mesmo sabendo que necessariamente desagradarei. Como desagrada o que foge ao politicamente correto e ao coro das multidões. Como desagrada o que contraria imexíveis zonas de conforto e grandes grupos de interesse – principalmente se escorados em influentes sindicatos.
Não importa. É hora de colocar na berlinda também os professores, pessoas físicas com nome e sobrenome. Não todos, por óbvio, mas aqueles que se encaixam num estereótipo decadente que tenho visto aumentar nos últimos anos. Aqueles que têm parcela significativa de culpa no cartório dos maus resultados da educação, apesar de quase sempre se esconderem nas supostas injustiças do sistema.
Reclamo do professor que só reclama, a ponto de transformar seu cotidiano numa lamúria permanente. Um chororô insuportável. Um fardo para si e para os outros – para os alunos, especialmente. Reclamo do professor que perdeu o charme, que não lê sequer o jornal do dia, não entra em biblioteca, vai dar aula com roupa de ginástica e só entende de novela. Daquele que jamais prepara uma aula e nunca tentou sequer ligar um computador. Daquele que não gosta do que faz e, por isso mesmo, não cria, não se valoriza. Só se lamuria, só choraminga. É triste e entristece.
Reclamo daquele que a tudo culpa o baixo salário. Explica sua muita preguiça na pouca cifra que recebe, como se isso justificasse a incompetência latente. Como se o magistério fosse a vítima escolhida para todos os males possíveis. A fila anda, ora bolas. Tem gente querendo esse lugar. E o dinheiro do povo é que paga essa conta, inclusive os interessantes dois meses de férias por ano. É preciso honrar o concurso por que passou. Fazer jus ao emprego público que escolheu – até porque já sabia das condições antes de nele entrar. Amar a profissão, apesar dos pesares. Ou dela desistir.
Não, não proponho parar de lutar ou abdicar da consciência crítica. Lutem por seus direitos, tudo bem. Protestem. Mas o professor tem de recuperar o autoconceito para além dos vencimentos. Para além do clichê sindicalista, que nada inova, nada propõe, nada desafia. Falo em fazer o que está ao seu alcance para melhorar a jornada, sem culpar os outros durante todo o tempo. Falo em superar essa cultura do coitadismo que se instalou em muitos corações e mentes. Afastar o baixo-astral. Falo, enfim, em vontade própria, em autoestima e, principalmente, em autocrítica – virtude indispensável a qualquer profissional.
Educação pede urgências, por Victor José Faccioni*
Todos proclamam a importância e necessidade da educação, cuja carência nacional relega considerável multidão, senão a maioria dos jovens cidadãos, a verdadeiros párias na atualidade e graves incertezas no porvir. Mas nem sempre é lembrado que só haverá a universalização e valorização da educação, com a escalada de novos níveis, com a valorização e motivação do professor e quanto mais qualificado possível.
ZH publicou em setembro último interessante e oportuna pesquisa sobre o desinteresse da juventude estudantil brasileira, por exemplo, em se formar e seguir a carreira do magistério, de professor para lecionar. Começa o alerta com a manchete: “Profissão em baixa – Jovens evitam ser professor”. E prossegue: “Pesquisa aponta que só 2% dos estudantes pretendem seguir a carreira docente no Brasil”. Isto não significa desimportância da missão do educador. Ao contrário, diz aquele noticiário, ao informar que “os jovens, principalmente de escola pública, admiram a figura do professor. Mas seguir a mesma carreira dos mestres não está nos seus planos”.
Trata-se de estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas, encomendado pela Fundação Victor Civita, sobre a atividade da carreira docente no Brasil. “Em vez de se tornarem pedagogos – ou apostar em cursos de licenciatura – eles sonham em ser advogados, administradores e engenheiros”.
Daí a oportuna advertência da diretora executiva da Fundação Victor Civita, Ângela Dannemann, ao alertar que “são dados bastante assustadores. Isso é muito grave, por que vai haver problema de reposição de vagas no futuro”. E, acrescentaria eu, como todos sabemos, o futuro já está sendo construído hoje. Daí que, se ainda hoje não estivermos tratando de uma campanha de valorização e promoção da importância e necessidade vital do magistério, para que aconteça a educação, deixaríamos de assegurar a construção de um futuro melhor para nosso Brasil.
Neste sentido, cresce de importância a discussão, possível aperfeiçoamento e votação do projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação, enviado ao Congresso Nacional em 15/12 último, no qual estabelece que Estados, municípios e o Distrito Federal elaborem planos correspondentes, ou façam adequações nos que já existem, com metas a executar no período deste ano a 2020. Mais que na hora, pois, de discussão e votação de tão importante matéria, com a “Educação pedindo urgências”, para assegurá-la a todos os brasileiros.
*CONSELHEIRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO RSZH publicou em setembro último interessante e oportuna pesquisa sobre o desinteresse da juventude estudantil brasileira, por exemplo, em se formar e seguir a carreira do magistério, de professor para lecionar. Começa o alerta com a manchete: “Profissão em baixa – Jovens evitam ser professor”. E prossegue: “Pesquisa aponta que só 2% dos estudantes pretendem seguir a carreira docente no Brasil”. Isto não significa desimportância da missão do educador. Ao contrário, diz aquele noticiário, ao informar que “os jovens, principalmente de escola pública, admiram a figura do professor. Mas seguir a mesma carreira dos mestres não está nos seus planos”.
Trata-se de estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas, encomendado pela Fundação Victor Civita, sobre a atividade da carreira docente no Brasil. “Em vez de se tornarem pedagogos – ou apostar em cursos de licenciatura – eles sonham em ser advogados, administradores e engenheiros”.
Daí a oportuna advertência da diretora executiva da Fundação Victor Civita, Ângela Dannemann, ao alertar que “são dados bastante assustadores. Isso é muito grave, por que vai haver problema de reposição de vagas no futuro”. E, acrescentaria eu, como todos sabemos, o futuro já está sendo construído hoje. Daí que, se ainda hoje não estivermos tratando de uma campanha de valorização e promoção da importância e necessidade vital do magistério, para que aconteça a educação, deixaríamos de assegurar a construção de um futuro melhor para nosso Brasil.
Neste sentido, cresce de importância a discussão, possível aperfeiçoamento e votação do projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação, enviado ao Congresso Nacional em 15/12 último, no qual estabelece que Estados, municípios e o Distrito Federal elaborem planos correspondentes, ou façam adequações nos que já existem, com metas a executar no período deste ano a 2020. Mais que na hora, pois, de discussão e votação de tão importante matéria, com a “Educação pedindo urgências”, para assegurá-la a todos os brasileiros.
Os dois estão DISPONÍVEIS em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=16281#a1012
1 comentários:
A leitura destes dois artigos refletem a conversa que eu já tive com alguns colegas pibidianos ou amigos que fazem faculdade de área que não seja educação. Antes de seguir com este comentário, ressalta-se que os dois autores não são desta área também, o que dá mais veracidade ao primeiro texto: alguns professores estão tão acomodados com a situação em que se encontra sua profissão que nem para propor uma reflexão sobre ela, se dispõem. é triste ver isso, mas é o que mais percebemos durante nossas ações com o PIBID.é frustrante ver que quem mais se preocupa com a educação no Brasil não é a maioria dos professores. estes preferem ficar na sua comodidade e restringir-se apenas à reclamar salarios e cargas horárias.
17 de janeiro de 2011 às 05:26é grande o número de calouros que entram para um curso de licenciatura por ser mais fácil.. por falta de opção .. por ser "o que eu consegui". assim sendo, torna-se difícil após 4 anos de curso, formar um grupo (nunca generalizando, mas é fato que alguns acadêmicos sempre estão incluidos nesta lista)com o real objetivo esperado de um profissional desta área.
existe, também,um outro grupo de acadêmicos: os que assumiram que querem ser professores, porém,antes mesmo de conseguir o diploma, já possuem os discursos: "salário baixo", "educação ruim", "nada muda pra nossa área"... parece brincadeira, mas existe. infelizmente. raros são os que dizem: "eu sei q ganharei pouco, mas não consigo ver-me em outra atividade. esta é que realmente me realiza profissionalmente". por estes fatores, e para evitar a mesmice de discurso/atitudes na prática docente, é que estágios e programas que mostrem o cotidiano escolar devem ser iniciados nos cursos de graduação nos primeiros semestres.
Se como aluno de licenciatura já não valoriza sua profissão e sua futura carreira, o que esperar desde indivíduo como profissional da educação? o que ensinará uma pessoa já com tantos preconceitos ? que não crê na sua potencialidade e na importancia da carreira que escolheu (por vontade própria ou não)?
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